sábado, 6 de junho de 2009

Durkheim, Weber e Marx




Abaixo seguem dois textos de autoria da Profª Fabiana de Sousa Castelo Branco de Melo Silva, destinados a alunos da turma e 04 de Introdução a Sociologia.

A divisão do trabalho nas concepções marxista e durkheimiana

Fabiana de Sousa Castelo Branco de Melo Silva
E-mail: fabianacbranco@hotmail.com




RESUMO



Segundo Marx, todas as relações sociais são mediadas pelas condições materiais produzidas pelo indivíduo. A divisão do trabalho, segundo esse autor, segue esse mesmo modelo, pois para a teoria marxista, esta é uma maneira de construir relações sociais de produção. Essa divisão do trabalho cria uma oposição entre duas classes sociais, que são a detentora dos meios e/ou modos de produção e a possuidora da força de trabalho, de modo que a primeira exerce um domínio sobre a segunda por meio de dois fatores essenciais: a alienação e a ideologia. Mas, para Durkheim, a divisão do trabalho tem uma perspectiva diferente. Ela aumentaria simultaneamente a força produtiva e a habilidade do trabalhador, sendo ela necessária para o desenvolvimento intelectual e material das sociedades, além de ser fonte de civilização e de trazer consigo um caráter moral. Para esse autor, é a partilha de funções que existe no processo de divisão do trabalho que determina os laços de amizade entre os indivíduos. Essa solidariedade, por sua vez, ocorre através das representações coletivas existente no meio social e produzem uma comunhão de idéias e de compartilhamento de um mesmo conjunto de regras sociais.


PALAVRAS- CHAVE: divisão do trabalho, alienação, ideologia, solidariedade, representações coletivas.





A mercadoria na teoria marxista é a base de todas as relações sociais, e este é um ponto-chave para a compreensão desta teoria. Para Marx, há uma tendência histórico-dialética das relações sociais se mercantilizarem, isto é, tudo se transforma em mercadoria. É a partir da centralidade da mercadoria no pensamento de Marx que podemos entender alguns de seus conceitos mais importantes, como por exemplo, a divisão do trabalho.
Marx chegou à conclusão que os homens produzem seus meios de vida e estabelecem relações sociais baseadas nas condições materiais de sua existência. Ele acredita, ainda, que o estudo de qualquer sociedade pressupõe, como ponto de partida, as relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza.
Eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física. Ao produzirem os seus meios de vida, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material. (Marx e Engels, 1983:8)

Segundo Marx e Engels (1983:9) as relações de diferentes nações entre si dependem do grau em que cada uma delas desenvolveu as suas forças produtivas, a divisão do trabalho e o intercâmbio interno, isto é, a divisão do trabalho é uma maneira de construir relações sociais de produção, que são formas por meio das quais as sociedades se organizam para suprir suas necessidades. Falar em divisão do trabalho usando Marx é falar em formas de propriedades, em distribuição da rendas entre os indivíduos e em formação das classes sociais.
A divisão do trabalho se dá entre quem concede e quem executa o trabalho, isto é, entre os donos dos meios de produção e os donos da força de trabalho. Marx identifica que pelas classes sociais os homens estabelecem uma relação social de exploração, antagonismos sociais e de alienação, sob a forma da apropriação dos meios de produção, sendo a luta de classes a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção.
De acordo com Marx, a divisão do trabalho no meio de uma nação começa por provocar a separação do trabalho industrial e comercial do trabalho agrícola, e, com ela, a separação de cidade e campo e a oposição dos interesses de ambos (pág. 9). É através da divisão do trabalho que surgem as classes sociais, de modo que elas não são constituídas de agregados de indivíduos, mas são definidas estruturalmente, de forma que cada uma tem suas regras e condutas apropriadas, as quais estariam inseridas em um único sistema, o qual é definido através dos seus modos de produção.
Existem diferentes fases de desenvolvimento da divisão do trabalho, e estas estão interligadas as diferentes formas de propriedade, ou seja, a divisão do trabalho determina as relações dos indivíduos entre si, no que se refere ao material, ao instrumento e ao produto de trabalho. A divisão social do trabalho sempre existiu em todas as sociedades e esta divisão é inerente ao trabalho humano e ocorre em relação à propriedade privada.
Na propriedade tribal, a estrutura social limita-se à extensão familiar entre os chefes patriarcais, membros e escravos de uma determinada tribo e esta é a primeira forma de propriedade, sendo ela correspondente à forma menos evoluída dos modos de produção, onde seus habitantes vivem da caça, pesca, criação de gado e da agricultura. Nesta fase existe um prolongamento da divisão natural do trabalho no meio familiar.
A segunda forma de propriedade é a comunal e estatal antiga. Esta é resultante da união de varias tribos, as quais, por meios de acordos ou conquistas entre elas, tornam-se uma cidade. É neste tipo de propriedade que Marx relata o desenvolvimento da propriedade privada móvel e imóvel, além da divisão do trabalho se apresentar mais desenvolvida. A estrutura da sociedade se subdivide em cidadãos ativos e seus escravos. Já nesta etapa de propriedade, observa-se oposição entre cidade e campo, indústria e comércio marítimo. Percebermos, também, as mesmas relações de divisão do trabalho apresentadas na propriedade privada moderna.
Já a terceira forma de propriedade, a feudal, apresenta no seu modo de produção a oposição contra as cidades e a estrutura hierárquica da propriedade fundiária e os séqüitos armados a elas ligados deram a nobreza o poder sobre os servos(pág. 11).Nesta etapa havia a existência de diferentes condições de produção, que embora limitadas, proporcionaram-nos a divisão entre o trabalho urbano e o trabalho rural, além de criar hierarquias entre elas.
Um outro tipo de propriedade é a propriedade privada, a qual se dá pelo modo de produção capitalista, e que tem como estrutura social os burgueses e os operários, de modo que os primeiros seriam os detentores da propriedade privada e/ou dos modos de produção e os segundos seriam os detentores da força de trabalho. Existe historicamente uma relação de oposição entre duas classes, de modo que uma não existe sem a outra, isto é, a divisão do trabalho e a especialização das atividades em classes são basicamente a divisão dos meios de produção e da força de trabalho.
Outra consideração importante de Marx é o conceito de luta de classes. Nas sociedades modernas, a luta de classes se dá entre os capitalistas ou burgueses e os trabalhadores, os quais sofrem explorações trabalhistas, de forma que esta relação se reproduz ao passar do tempo por causa de uma consciência social.
A produção das idéias, representações, da consciência está a principio directamente entrelaçada com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real. (1983:13). Isto quer dizer que, para Marx, a consciência social seria uma consciência de classe, isto é, a representação da vida real traria consigo uma representação das idéias da classe dominante, aquela que detêm os modos de produção.
Os indivíduos que constituem a classe dominante também têm, entre outras coisas, consciência, e daí que pensem; na medida, portanto, que dominam como classe e determinam todo o conteúdo de uma época histórica, é evidente que o fazem em toda a sua extensão, e portanto, entre outras coisas, dominam também como pensadores, como produtores de idéias, regulam a produção e a distribuição de idéias do seu tempo; que, portanto, as suas idéias são as idéias dominantes da época (1983:39)

Em outras palavras, para Marx (1983:14), não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência, e, segundo esse autor, existe uma solução para esta relação exploratória, a qual se daria através da revolução do proletariado contra o modo de produção capitalista. Porém, esta revolução, que deveria ser feita pelo proletariado, não ocorre, pois o sistema de exploração continua existindo devido dois fatores: a alienação e a ideologia.
A alienação, de acordo com Marx, faz com que o trabalhador não se reconheça no produto de seu trabalho, não percebendo a sua condição de explorado, de modo que quanto maior o nível de divisão do trabalho, maior o nível de alienação. A solução para o problema da alienação, segundo Marx, passa por uma luta política do próprio proletariado e não pela educação. Esta luta seria o que Marx definiu como consciência de classe, isto é, esta subordinação dos indivíduos a determinadas classes não pode ser abolida antes que se tenha formado uma classe que, contra a classe dominante, já não tenha de afirmar nenhum interesse particular de classe.(1983:59).
Como dissemos, as classes dominantes controlam os meios de produção e é através deles que elas estabelecem a infra-estrutura (conhecimentos, fábricas, sementes, tecnologia etc.), que está nas mãos da classe dominante, a qual determina a superestrutura (Estado, Direito, Religião, Cultura etc.). A superestrutura é uma construção ideológica que serve para garantir o poder da classe dominante e manter a classe trabalhadora alienada. É através da ideologia que a classe dominante dar as suas idéias a forma da universalidade, a apresentá-las como as únicas racionais e universalmente válidas.(pág. 40).
Para Marx, a divisão do trabalho se estende para além da produção material e exerce uma função de dominação da classe burguesa sobre a classe proletariada. Esta dominação se expressa nas formas de segmentação da sociedade, seja pela divisão social do trabalho ou pela sua divisão industrial.
A divisão do trabalho, que já atrás (pp. [15-18]* encontramos como uma das principais forças da história até aos nossos dias, manifesta-se agora também na classe dominante como divisão do trabalho espiritual e [31] material, pelo que no seio desta classe uma parte surge como os pensadores desta classe (os ideólogos conceptivos activos da mesma, os quais fazem da formação da ilusão desta classe sobre si própria a sua principal fonte de sustento), ao passo que os outros têm uma atitude mais passiva e receptiva em relação a estas idéias e ilusões, pois que na realidade são eles os membros activos desta classe e têm menos tempo para criar ilusões e idéias sobre si próprios.(1983:39)


Para Marx, o Estado é a forma em que os indivíduos de uma classe dominante fazem valer os seus interesses comuns e se condensa toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns são mediadas pelo Estado(pág.72), e adquirem uma forma política. A instituição do Direito, para Marx, é reduzida à lei, que por sua vez, se apresentaria à sociedade através de um caráter repressivo, o qual tem a função de proteger os interesses da propriedade privada e do direito privado, ou seja, o Estado é um instrumento criado pela burguesia para garantir seu domínio econômico sobre o proletariado, preservando e protegendo a propriedade privada dos meios de produção e o aparato jurídico, por sua vez, seria o responsável por garantir a igualdade entre os homens, camuflando a divisão da sociedade entre classes sociais e, neste sentido, o Estado surge pra garantir o interesse da classe dominante.
Para Durkheim, as explicações para as modificações estruturais ocorridas com o advento da sociedade moderna ocorreram por causa do triunfo da indústria Capitalista, a qual promoveu uma transformação radical em sua estrutura sócio-econômica. A divisão do trabalho, segundo este autor, aumentaria concomitantemente a força produtiva e a habilidade do trabalhador. A divisão do trabalho, como o próprio autor diz, é a condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; ela é fonte de civilização.(1983:23).
Outro fato interessante em durkheim é que a divisão do trabalho traria consigo um caráter moral, o qual corresponderia a certas necessidades, as quais seriam as conseqüências da divisão do trabalho, isto é, a função da divisão do trabalho é abrandar os problemas e os efeitos, sejam eles políticos, econômicos ou sociais, que ela mesma produziu.
A divisão do trabalho não preenche outro papel, ela apenas tem caráter moral, mas não se percebe qual razão de ser ela pode ter. Veremos, como efeito, que por si mesma a civilização não tem valor intrínseco e absoluto; o que faz seu valor é que corresponde a certas necessidades..., não teria outra função que a de atenuar os efeitos que ela própria produz, que a de curar as feridas que ela mesma fez (1983:26).

Outro conceito importante na teoria Durkheimiana é o da representação coletiva, no qual, segundo ele, o social cria representações coletivas que são atitudes comuns de uma determinada coletividade em uma determinada época. Essa representação coletiva independe dos indivíduos, pois o sujeito não tem poder criativo, isto quer dizer que, é o social que determina a pessoa, como se cada ser trouxesse em si uma marca do social, e esse sinal, por sua vez, determinaria suas ações.
Outro ponto chave da teoria durkheimiana é que a sociedade precisaria ser estudada como um fenômeno sui generis; como uma unidade ou sistema organizado de relações permanentes e mais ou menos definido, com leis naturais de desenvolvimento que são baseadas na articulação de suas partes. A sociedade é semelhante a um corpo vivo, em que cada órgão cumpre uma função, ou seja, as partes (os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade).
Durkheim afirma que no processo de divisão do trabalho existe a partilha de funções que determina laços de amizade. Ou seja, que somos conduzidos a considerar a divisão do trabalho sob um novo aspecto. Neste caso, com efeito, os serviços econômicos que ela pode prestar são pouca coisa ao lado do efeito moral que ela produz, e sua verdadeira função e criar entre duas ou várias pessoas um sentimento de solidariedade(pág. 27).
A solidariedade não se trata de um sentimento de bondade, mas de uma comunhão de idéias, ou seja, a solidariedade é o partilhar de um mesmo conjunto de regras sociais, de modo a existir dois tipos de solidariedades, a mecânica e a orgânica. A evolução de uma sociedade faz com que ela passe da solidariedade mecânica, onde o partilhar das regras é feito de maneira coerciva, para a solidariedade orgânica, na qual o partilhar das regras sociais é produzido a partir da diferenciação praticada pela divisão do trabalho social. Mas, até em sociedades mais complexas ainda há espaço para a solidariedade mecânica. É o caso do direito penal, o qual é um resíduo de solidariedade mecânica, ainda existente nas sociedades complexas.
Outro nível de divisão do trabalho é a divisão do trabalho sexual, a qual pode ou não versar apenas sobre os órgãos sexuais e/ou alguns caracteres secundários a eles, estendendo-se a funções orgânicas e sociais. Além disso, a divisão do trabalho sexual vai definir a solidariedade conjugal, de modo que ela torna-se mais ou menos estável, de acordo com a diferenciação entre os sexos masculino e feminino.
É, portanto, a repartição contínua dos diferentes trabalhos humanos que constitui principalmente a solidariedade social e que se torna a causa elementar da extensão e da complicação crescente do organismo social. (1983:31)

A divisão do trabalho, para Durkheim, pode ser normal ou geral e anômica ou patológica. Normal é o que se repete de maneira igual, o que funciona espontaneamente, gerando a solidariedade necessária à evolução do social. O patológico é aquilo que difere do normal. Durkheim acha que as coisas tendem à normalidade, e inclusive o patológico caminha para a normalidade.
Durkheim compara a sociedade a um corpo humano, onde o Estado teria a função do cérebro, o qual elaboraria as representações coletivas que aperfeiçoem a solidariedade. Para ele, todas as partes do corpo social teriam uma função e não existiria hierarquias entre as diferentes partes, acarretando em uma sociedade harmônica. Para Durkheim, até o crime é considerado normal, pois não há sociedade onde ele não exista, até porque o delito, segundo Durkheim, tem uma função social, que é a função de manter e gerar uma coesão social. Quando acontece um crime, a consciência coletiva é atingida e o social é agredido pelo indivíduo. Um ato não ofende à consciência coletiva pelo simples fato dele ser criminoso ou não, mas é criminoso porque ofende a consciência coletiva. No entanto, o Estado pode fortalecer a consciência coletiva através da punição do criminoso. É através da punição do criminoso que a consciência coletiva mantém a sua vitalidade. A pena, por sua vez, impede um crescimento exagerado do crime, não permitindo que ele se torne patológico.
Numa visão durkheimiana, a impunidade, não-punição do crime pelo Estado, enfraquece a consciência coletiva, os laços de solidariedade, gerando um estado de anomia. Quando o patológico prevalece sobre o normal, há uma desestruturação social. O estado de anomia é uma situação limite e sem função na sociedade.
Os sentimentos que o crime ofende são, no seio de uma mesma sociedade, os mais universalmente coletivos que existam, porque eles são estados particularmente fortes da consciência comum, é impossível que tolerem a contradição.(1983:51)

Para Durkheim, um dos fatos sociais que demonstraria a solidariedade social é a natureza da sanção restituitória, sendo a parte do direito restituitório aquele que corresponderia ao conjunto dos direitos reais. Esse tipo de direito não teria um caráter de repreender o crime, mas um caráter de reprimir o criminoso e de restituir à sociedade pela quebra da consciência coletiva. Esse fato ocorreria através do sentimento de vingança, onde a sociedade se vinga daquele que quebrou os laços de solidariedade que ela não descumpriu.
Por fim, comparando a divisão do trabalho nas concepções de Marx e Durkheim, podemos concluir que para Durkheim, o ponto de partida da análise sociológica é a própria sociedade, que como demonstramos, modela o comportamento do homem no processo de evolução social. Para Marx, a vida social deve ser compreendida como um processo dialético, resultante da ação do indivíduo sobre a natureza, a partir do momento em que este busca construir as bases materiais de sua existência.
Nesse sentido, outra questão fica em evidência, ou seja, Durkheim considera que as condutas humanas são determinadas pela sociedade aos indivíduos, Marx, no entanto, nos mostra que a sociedade está dividida em duas esferas - a infra-estrutura e a superestrutura - e que é o modo de produção da vida material que condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral.
Portanto, se considerarmos a posição de Marx quanto ao eixo de compreensão da sociedade, veremos que enquanto para Durkheim a sociedade se sobrepõe ao indivíduo e lhe impõe suas regras e condutas morais, para aquele outro, a esfera econômica é básica para a formação da consciência dos indivíduos, já que esta se apresenta sobre a forma da ideologia dominante no modo de produção capitalista, ou seja, a ideologia burguesa.
No que se refere à divisão do trabalho propriamente dita, Durkheim considera que a característica fundamental da sociedade moderna é a divisão social do trabalho, pois suas diferentes esferas se diferenciam entre si e se especializam, o que concorre para a integração dos indivíduos na sociedade. Para Durkheim, a existência da divisão social do trabalho determina o grau de coesão entre os indivíduos de uma determinada sociedade. No caso das sociedades tradicionais, como não há uma divisão social do trabalho, os indivíduos estão integrados na coletividade pela tradição e pelo costume, ou seja, por uma consciência coletiva que indicam suas formas padronizadas de pensamento ou conduta.
O tipo de solidariedade apresentado nessas sociedades é a solidariedade mecânica. A solidariedade orgânica seria a solidariedade típica da sociedade capitalista moderna. Essa solidariedade decorre da evolução da sociedade e promove a diferenciação social por meio da divisão do trabalho. Portanto, a função da divisão social do trabalho seria a de criar um sentimento de solidariedade entre os homens. Para Durkheim, as diferenças sociais criadas pela divisão social do trabalho unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e pela sua interdependência.
Já para Marx, as sociedades tradicionais apresentam uma forma de divisão do trabalho, mesmo que baseadas na idade, gênero ou força física. O que diferencia essa forma de divisão natural do trabalho da divisão do trabalho no capitalismo é a ausência de um excedente na produção.
Se para Durkheim a divisão social do trabalho gera solidariedade, para Marx, a divisão do trabalho expressa os meios de segmentação da sociedade. Em caráter primeiro, a divisão do trabalho se refere à apropriação dos meios de produção pelo empresário capitalista; em segundo, essa apropriação que distancia o trabalhador dos meios de produção, distancia, também, o trabalhador de si mesmo, provocando nele próprio um estado de alienação, a qual vai dividir a sociedade entre proprietários e não proprietários dos meios de produção e as classes sociais passam a lutar por interesses antagônicos, apesar da interdependência que se estabelecem entre elas. Neste caso, a alternativa para a classe proletariada será promover uma revolução capaz de solucionar os antagonismos sociais, eliminando, assim, a sociedade de classes.



REFERÊNCIAS:


DURKHEIM, Emile. Da divisão do trabalho social. Livro I: a função da divisão do trabalho. Caps 1, 2 e 3. In: Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1983.

MARX, Karl. A ideologia alemã. Cap. 1. In: Marx e Engels, obras escolhidas. Tomo I, Lisboa, Ed. Avante, 1983.

A diferença entre fato social e ação social

Fabiana de Sousa Castelo Branco de Melo Silva
E-mail: fabianacbranco@hotmail.com



RESUMO



Segundo Durkheim o fato social é o objeto de estudo da sociologia, de modo que o mesmo exerce sobre o indivíduo uma força externa de coerção, a qual é imposta ao indivíduo através de um conjunto de normas de uma determinada sociedade. Ele ainda afirma que os fatos sociais devem ser tratados como coisas, porque eles são produtos objetivos criados pela consciência coletiva dos sujeitos sociais. Opondo-se a Durkheim, Weber afirma que o objeto do estudo sociológico seria a ação social, pois, para este autor, a ação social traria um sentido atribuído a ela pelos sujeitos sociais, além de apresentar significados culturais dos fenômenos, os quais Weber denominou como tipos ideais. Segundo este autor, os tipos ideais deveriam ser compreendidos de forma objetiva demonstrando que a ação social apresenta características distintas, regulares ou não, de acordo com o sentido que cada indivíduo percebe a sua conduta e entende a sua estrutura inteligível.

PALAVRAS- CHAVE: fato social, coerção social, ação social, tipos ideais.








Em sua obra As Regras do Método Sociológico, Durkheim compreende o Fato social como objeto da sociologia, e, para ele, o fato social é reconhecido pelo seu poder de coação externa que se impõe sobre os indivíduos, de modo que os indivíduos são coagidos a agirem segundo as práticas constituídas pelas correntes sociais. Ele Define os fatos sociais como toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais”(2001:40).
Durkheim também atribui três características aos fatos sociais: a coercitividade, a exterioridade e a generalidade. A primeira característica, segundo este autor, consiste em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhe impõem(2001:33).
Desta forma a coerção social é a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, obrigando-os a conformarem-se às regras impostas pela sociedade em que vivem, não havendo, contudo, a vontade ou escolha dos indivíduos. Tal força manifesta-se quando o indivíduo adota um determinado idioma, quando aceita determinado tipo de formação familiar ou quando está subordinado a determinado código de leis. A coerção é constatada pelas sanções que serão impostas ao indivíduo, caso ele venha a se rebelar. Essas sanções, em princípio, são espontâneas, para desvios leves, provenientes de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence. Desvios considerados graves sofrem coerção através da punição (peso das leis). As regras de coerção são transmitidas aos indivíduos através da educação, seja ela formal ou informal.
A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos, cuja vontade própria independe da vontade ou adesão consciente, sendo denominada como exterior aos indivíduos. Segundo Durkheim (2001:33) é hoje incontestável que a maior parte das nossas idéias e tendências não são elaboradas por nós, mas antes nos vêm do exterior, elas só podem penetrar em nós impondo-se.Isto significa que as regras sociais, os costumes, as leis são existentes antes até do nascimento das pessoas, as quais deverão obedecê-las sob a pena de punições.
E a terceira e última característica é a generalidade dos fatos sociais, os quais se manifestam através da natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como por exemplo, os sentimentos e a moral.
Dir-se-á que um fenômeno não pode ser coletivo se não for comum a todos os membros da sociedade, ou, pelo menos, à maior parte deles, portanto, se não for geral. Sem dúvida; mas se é geral, é porque é coletivo (quer dizer, de certo modo obrigatório) e nunca coletivo, por ser geral. (2001: 37)

A generalidade de um fato social, ou seja, sua unanimidade é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito de determinada questão.
O normal é aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de ter uma existência tangível.
Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização deste, desde que consiga integrar-se a essa estrutura. Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o desenvolvimento de uma solidariedade entre seus membros.
Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral acaba definindo a norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo.
De acordo com este autor a regra fundamental do seu método sociológico é que os fatos sociais são coisas e devem ser tratados como coisas(2001:51), porque dentro do seu método sociológico, os fatos sociais são uma concepção do espírito, sendo neste sentido essencialmente objetivo, empirista e indutivo.
Segundo a teoria deste sociólogo, existem dois tipos de consciências que formam um ser social: a consciência individual, que se relaciona somente com o próprio sujeito, e a consciência coletiva, que é o sistema de sentimentos, idéias e crenças que a sociedade atribui no indivíduo. As representações coletivas são exteriores às consciências individuais porque delas não se derivam às questões de um indivíduo isolado, mas de um grupo de indivíduos.
As consciências dos indivíduos que compõe uma sociedade geram, em conjunto, uma consciência coletiva, a qual se definiria por ser fenômenos sociais exteriores ao sujeito, que imporia ao indivíduo inúmeras manifestações da vida coletiva, como por exemplo, crenças e praticas religiosas, regras morais, preceitos normativos do direito, etc., isto é, uma das expressões do fato social é a representação coletiva. As representações coletivas são as maneiras como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia, de modo que essas representações formariam os conceitos e os valores de uma sociedade.

Devemos, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos sujeitos conscientes que deles têm representações; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, porque é deste modo que se nos apresentam. Se esta exterioridade não é senão aparente, a ilusão dissipar-se-á, por assim dizer, o exterior entrar no interior. (2001: 52)


Além dos fotos sociais serem tratados como coisas, eles devem seguir passos rigorosos com a finalidade de evitar que o cientista social recaia em erros no processo de análise. O primeiro destes passos é que devemos afastar sistematicamente todas as prenoções, ou seja, a prática do cientista social é de explicar o mundo como as coisas realmente acontecem sem deixar seus preconceitos interferirem no seu estudo social. Com essa visão, pretendia Durkheim garantir o sucesso das ciências exatas, bem como a definição da sociologia como ciência, acabando de vez com os "achismos" que interpretavam de maneira distorcida a realidade social.
Outra questão fundamental do seu método sociológico, que dá o tom do seu positivismo e funcionalismo, é a concepção de que existem estados normais e estados patológicos entre os fatos sociais. Em outras palavras, existem fatos sociais que são normais e fatos que são patológicos, ou mórbidos, assim também denominados estes últimos. Para ele, fatos normais são aqueles que são o que devem ser, enquanto os patológicos deveriam ser de outro modo. Portanto, dentro desta perspectiva, poderíamos encontrar estados de saúde e doença social.
Para um fato social ser considerado normal, ele tem que seguir as seguintes regras:

a primeira regra é que um fato social é normal para um tipo social determinado considerado numa fase determinada do seu desenvolvimento, quando se produz na média das sociedades dessa espécie, consideradas na fase correspondente da sua evolução; a segunda regra é que os resultados do método precedente podem verificar-se mostrando que a generalidade do fenômeno está ligada às condições gerais da vida coletiva do tipo social considerado; e por fim esta verificação é necessária quando este fato diz respeito a uma espécie social que ainda não completou a sua evolução integral.(2001:. 81)


Uma outra questão importante no seu método é a construção de tipos ideais, os quais partem da necessidade de agrupar sociedades em tipos sociais, segundo a sua semelhança. Para o método sociológico, não interessava nem a perspectiva dos historiadores, que viam na história uma diversidade de sociedades muito grande, nem a filosófica, que agrupava toda a evolução histórica na idéia de humanidade, pela qual perpassava a realização da natureza humana. Segundo Durkheim, os sujeitos escapam a esta alternativa tão logo se reconheça que, entre a multidão confusa das sociedades históricas (a infinidade de sociedades diferentes descrita pelos historiadores) e o conceito único, mas ideal de humanidade (dos filósofos), existem intermediários que são as espécies sociais.
A constituição destes tipos sociais, que são de suma importância para a sociologia, uma vez que Durkheim afirmava que a concepção de normal e patológico é relativa a cada tipo social, deveria seguir um método: (a) estudar cada sociedade individualmente; (b) constituir monografias exatas e detalhadas; (c) compará-las achando semelhanças e diferenças; (d) classificar os povos em grupos, segundo estas semelhanças e diferenças.
Este seria, para Durkheim, um método somente admissível para uma ciência da observação. O estudo e a representação destes tipos sociais foram descritos por ele como uma área específica da sociologia, denominada Morfologia Social, numa clara alusão aos estudos semelhantes na biologia.
Na formação das regras relativas ao esclarecimento das provas, Durkheim afirma que só existe uma forma de demonstrar as causas e conseqüências dos fenômenos sociais. Este método é o procedimento de comparar os casos que estão simultaneamente presentes ou não, de forma a perceber se existem variações que modificam estes fenômenos ou não.

A explicação sociológica consiste exclusivamente em estabelecer relações de casualidade, quer se trate de ligar um fenômeno à sua causa, quer, inversamente, uma causa aos seus efeitos úteis (2001:134).

Durkheim tem como instrumento principal de análise o fato social, como já vimos. Podemos considerar que, para Weber, o foco de análise se encontra na ação social. A ação social é qualquer conduta humana que se oriente pela expectativa da ação de outrem, ou que dela derive.
A ação social, portanto, é uma ação onde o sentido atribuído por seu sujeito ou sujeitos está referido à conduta de outros, orientando-se por esta em seu desenvolvimento. (Saint-Pierre, 1999:54)

Ao contrário de Durkheim, Weber não pensa que a ordem social tenha que se opor e se distinguir dos indivíduos como uma realidade exterior a eles, mas que as normas sociais se concretizam exatamente quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação, de modo que para sociologia weberiana não existiria sentido em um nível supra-individual (subjetivo), isto é, o indivíduo teria que valer basicamente como único portador de um comportamento dotado de sentido (Saint-Pierre, 1999:55).
Weber percebe como objetivo primordial da sociologia a captação da relação de sentido da ação humana, ou seja, chegamos a conhecer um fenômeno social quando o compreendemos como fato carregado de sentido que aponta para outros fatos significativos. O sentido, quando se manifesta, dá à ação concreta o seu caráter, quer seja ele político, econômico ou religioso. O objetivo do sociólogo é compreender este processo, desvendando os nexos causais que dão sentido à ação social em determinado contexto. Por isso, para Weber, há profunda ligação entre as ciências históricas e a sociologia. Raymond Aron assim explica esta característica do pensamento de Weber:

Nas ciências da realidade humana deve-se distinguir duas orientações: uma no sentido da história, do relato daquilo que não acontecerá uma segunda vez, a outra no sentido da sociologia, isto é, da reconstrução conceitual das instituições sociais e do seu funcionamento. Estas duas orientações são complementares. Max Weber nunca diria, como Durkheim, que a curiosidade histórica deve subordinar-se à investigação de generalidades. Quando o objeto do conhecimento é a humanidade, é legítimo o interesse pelas características singulares de um indivíduo, de uma época ou de um grupo, tanto quanto pelas leis que comandam o funcionamento e o desenvolvimento das sociedades (...) A ciência weberiana se define, assim, como um esforço destinado a compreender e a explicar os valores aos quais os homens aderiram, e as obras que construíram (1982:41).


Mas, este processo nunca é acabado, pois o conhecimento é uma conquista que nunca chega ao seu termo (Aron, 1982:42), fazendo da ciência um vir a ser constante. Aqui, vê-se como Max Weber julga impossível que a sociologia possa um dia formular um quadro claro e definitivo das leis fundamentais da sociedade humana. Weber, também, defende que um mesmo acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas, sendo que nenhuma dessas causas pode ser considerada superior em relação às outras. O que garante a objetividade da explicação sociológica é o seu método e não a objetividade pura dos fatos.
A categoria metodológica principal na teoria weberiana, a qual permitiria estabelecer o significado cultural dos fenômenos quanto para formular preposições empíricas sobre eles, é um instrumento teórico chamado “tipo ideal”. O tipo ideal é um conceito sociológico construído e testado previamente, antes de ser aplicado às diferentes situações onde se acredita que ele tenha ocorrido. É um modelo teórico fabricado a partir de fenômenos isolados ou da ligação entre eles, e que é testado, em seguida, empiricamente.
A análise da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre quatro tipos de ação. A primeira é a ação racional de meios e fins, a qual faz relação a um objetivo e é determinada por expectativas no comportamento, tanto de objetos do mundo exterior, quanto de outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta que tem um fim específico, como por exemplo, um aluno que estuda com finalidade de tirar boas notas.
O segundo tipo de ação é ação racional de valor, a qual faz relação a um valor e é aquela definida pela crença consciente no valor - interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, a sua crença consciente no valor, cabendo aqui, o exemplo do capitão que, junto ao seu navio, afunda de “livre e espontânea vontade” com ele.
O terceiro tipo de ação é a ação afetiva, que é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do sujeito e é definida por uma reação emocional do ator em determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar mal.
A ultima é a ação tradicional, sendo aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas numa segunda natureza para agir conforme a tradição. O ator não precisa conceber um objeto, ou um valor, nem ser impelido por uma emoção, ele obedece a reflexos adquiridos pela prática. Neste momento, temos o exemplo da mulher que contrai matrimônio ainda virgem ou de branco.
Tanto a ação afetiva, quanto a tradicional produzem relação entre pessoas (relações pessoais). São coletivas, comunitárias, dão-nos noção de comunhão e conceito de comunidade. Porém, devemos observar que na concepção de Durkheim, a comunidade é anterior a sociedade, ou melhor, a comunidade se transforma em sociedade. Já para Weber, comunidade e sociedade coexistem. A comunidade existe dentro do interior da sociedade, como por exemplo, a família (comunidade) que existe dentro da sociedade.
Ação social é um comportamento humano, ou seja, uma atitude interior ou exterior voltada à ação ou abstenção. Esse comportamento só é ação social quando o ator atribui à sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se relaciona com o comportamento de outras pessoas.
Segundo este autor, o tipo ideal apresentaria as seguintes características, como: 1) é sempre um meio e nunca o fim do conhecimento científico, pois 2) é uma utopia e como tal não pode constituir o objetivo da investigação da realidade; e tem este caráter como resultante 3) de uma exageração de certos traços da realidade, selecionados em função 4) da significação que estes possuem para um 5) determinado ponto de vista que confira unilateralidade ao tipo ideal.(Saint-Pierre, 1999:70)
Para Weber, a Sociologia é uma ciência que procura compreender a ação social. Por isso, considerava o indivíduo e suas ações como ponto chave da investigação, evidenciando o que, para ele, era o ponto de partida para a Sociologia, a compreensão e a percepção do sentido que a pessoa atribui a sua conduta.
O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada indivíduo dá a sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das instituições sociais, como dizia Durkheim. Weber propõe que se deve compreender, interpretar e explicar respectivamente, o significado, a organização, o sentido e evidenciar irregularidade das condutas.
Com este pensamento, não possuía a idéia de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, dando importância à necessidade de entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações sociais. Ou seja, a sua idéia é que no domínio dos fenômenos naturais só se podem aprender as regularidades observadas por meio de proposições de forma e natureza matemática. É preciso explicar os fenômenos por meio de proposições confirmadas pela experiência, para poder ter o sentimento e compreendê-las.
Para Weber, a ciência positiva e racional pertence ao processo histórico de racionalização, sendo composta por duas características ( a realidade e o tipo ideal ) que comandam o significado e a veracidade científica. A realidade e o tipo ideal são o não-acabamento essencial e a objetividade, em que esta, é definida pela validade da ciência para os que procuram este tipo de verdade, e pela não aceitação dos juízos de valor. Segundo ele, o não-acabamento é fundamental, diferentemente de Durkheim, que acredita que a Sociologia é edificada em um sistema completo de leis sociais.
Weber, por sua vez, defendia que para todas as disciplinas, tanto para as ciências naturais quanto para as ciências da cultura, o conhecimento seria uma conquista que nunca chegaria ao fim. A ciência é o devir da ciência. Seria necessário que a humanidade perdesse a capacidade de criar para que a ciência do homem fosse definitiva.
A objetividade do conhecimento é possível, desde que se separe claramente o conhecimento empírico da ação prática. Segundo Weber, essa é uma atitude que depende de uma decisão individual do pesquisador, ou seja, os cientistas devem estar dispostos a buscar essa objetividade.
Na concepção dos autores Weber e Durkheim, há uma separação entre ciência e ideologia. Para Weber, também há uma separação entre política e ciência, pois a esfera da política é irracional, influenciada pela paixão e a esfera da ciência é racional, imparcial e neutra. O homem político apaixona-se, luta, tem um princípio de responsabilidade, de pensar as conseqüências dos atos. O político entende por direção do Estado, correlação de força, capacidade de impor sua vontade às demais pessoas e grupos políticos. É luta pelo poder dentro do Estado. Já o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento científico, não deve emitir opiniões, mas sim, pensar segundo os padrões científicos, deve fazer ciência por vocação. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigação não será ele nem imparcial, nem objetivo. Para Durkheim, política é a relação entre governantes e governados.
A sociologia de Max Weber se inspira em uma filosofia existencialista que propõe que nenhuma ciência poderá dizer ao homem como ele deve viver, ou ensinar às sociedades como elas devem se organizar. Weber afirma que nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual é o seu futuro. A ciência weberiana se define como um esforço destinado a compreender e a explicar os valores aos quais os homens aderiram e as obras as quais construíram. Ele considera a Sociologia como uma ciência da conduta humana, na medida em que essa conduta é social.
Weber fundamenta sua definição de valores na filosofia neokantiana que propõe a distinção radical entre fatos e valores. Os valores não são do plano sensível, nem do transcendente, são criados pelas desilusões humanas e se diferem dos atos pelos quais o indivíduo percebe o real e a verdade. Para Weber, há uma diferença fundamental entre ciência e valor, sendo este o produto das intenções. Durkheim acreditava encontrar na sociedade o objeto e o sujeito criador de valores. Weber, contudo, contesta Durkheim dizendo que as sociedades são meios onde os valores são criados, mas ela não é concreta.
Se a sociedade nos impõe valores, isso não prova que ela seja melhor que as outras. A reispeito do conceito de Estado, Weber constitui sempre uma síntese realizada para determinados fins do conhecimento. Mas, por outro lado, obtemo-lo por abstração das sínteses e o encontramos na mente dos homens históricos.
Apesar de tudo, o conteúdo concreto que a noção histórica de Estado adota poderá ser apreendido com clareza mediante uma orientação segundo os conceitos do tipo ideal. O Estado é um instrumento de dominação do homem pelo homem.Conforme Weber, só o Estado pode fazer uso da força da violência e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas (constituição). O Estado, segundo Durkheim, é a instituição da disciplina moral que vai orientar a conduta do homem.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:


ARON, Raymond, As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes; Brasília: Editora da UNB, 1982.
CASTRO, Ana Maria de Castro. DIAS, Edmundo Fernandes. Introdução ao pensamento sociológico – Emile Durkheim, Max Weber, Karl Marx e Talcott Parsons. 18ª ed. São Paulo – Centauro, 2005.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2001.
SAINT-PIERRE, Héctor Luís. Max Weber. Entre a paixão e a Razão. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1999.